Os angrenses num acidente nuclear

Portogente
Caroline Aguiar

"As indicações internacionais são para evacuar um raio de 15 quilômetros em volta da usina que tenha problemas. Aquilino Senra, professor de energia nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que esse número deve ser reavaliado. “Depois do que aconteceu no Japão, essa distância de segurança deve ser discutida. A situação mostrou que 15 km pode ser pouco”, afirmou."

Leiam a matéria completa:

Angra dos Reis não está
preparada em caso de acidente nuclear

Agora clique no mapa e veja onde são os 15 Km:



Na mesma reportagem:

"Para o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, as soluções para um plano de evacuação de emergência incluiriam a construção de atracadouros para viabilizar a saída pelo mar e de quadras esportivas que pudessem ser utilizadas como heliporto."

Com todo o respeito ao ilustre presidente da Eletronuclear, das duas uma: ou ele não conhece Angra ou está de sacanagem com os angrenses.

Como ele vai evacuar toda essa população na área delimitada aí no mapa pelo mar ou pelo ar? Ou será que a evacuação está programada apenas para os moradores da Praia Vermelha, o pessoal da usina, e os magnatas do Frade? E quanto às quadras-heliponto, senhor presidente Othon Luiz Pinheiro, serão todas construídas perto da casa dos políticos? Quantos transatlânticos ficarão apoitados eternamente garantindo a segurança em caso de acidente? E os 10.000 helicópteros serão de 2 ou 3 lugares?

Não temos nada contra a energia nuclear. Por força do destino somos levados a pensar nela como a energia do futuro, desde que usada com o devido juízo, senão nem haverá futuro. Pelo menos até alguém nos convencer do contrário, será assim.

Mas acidentes acontecem ... pode um outro Bendegó resolver cair por lá, ao invés de no sertão baiano ... ou nossa enorme e tranquila placa tectônica entrar na menopausa e dividir-se ao meio, de norte a sul, mais ou menos a 250 léguas a oeste de Cabo Verde, por exemplo ... ou um terrorista pode planejar e atirar um avião cheio de políticos bem em cima de Angra 1, a piorzinha, que nem fizeram nas torres gêmeas... Acidente é imprevisível, ou nem seria acidente.

É exatamente porque os acidentes acontecem que a usina só deveria operar quando as condições de evacuação da população fossem absolutamente garantidas. Se a estrada Rio Santos, mesmo depois de duplicada e retificada, puder vir a bloquear, então a usina para. Isso seria num país de gente séria, claro.

Por aqui teremos que aguentar essas molecagens de dizerem que o novo plano é evacuar os moradores via traineiras e helicópteros. E como seria num vento leste em direção a Paraty? E num SW subindo a serra?

Energia nuclear é importante, o Brasil precisa continuar à frente nessa área, foi por isso que a decisão foi pela usina Alemã, que não era a melhor opção mas era a única que vinha junto com a transferência da tecnologia do combustível e outras (e o Brasil já está desesperado importando etanol até dos EUA). E daqui a alguma décadas, quando nossos descendentes estiverem em algum cruzeiro espacial sentados ao lado de um vulcano, poderão estar estar conversando: -"Ainda bem que não pararam com a energia nuclear naquele século 21, senão nem estaríamos aqui...". Quem sabe?

Mas isso de cais de atracação e helipontos só pode ser gozação do Othon Luiz, não é mesmo meu nobre colega Othon? Agora fale sério, qual é o plano de verdade?